quinta-feira, 3 de maio de 2012

Falando eu


            Nasci!...Então assim começou minha vida. Rodeado de paparicos até chegar outro e tomar meu lugar. Agora começa a luta entre mim e ele, disputa pelo centro das atenções. Mas adivinha quem vence, ele, essa foi fácil convenhamos, pois é o mais novo.
            Cresço e a vida continua. Sou importante no mundo agora, conquistei meu espaço, aqui é meu terreno, meu lugar, meu trabalho. Quando acordo minha mulher está dormindo ainda. Levanto, me arrumo e tomo café meio morno não gosto de café quente. E lá vem ele, caminhando na minha direção querendo carinho. Abraço ele, pois o amo, mas suga as atenções da casa, meu filho.
              Vou para o serviço. Quando chego sento-me na minha cadeira ao lado de duas amigas. Atendo pessoas o dia todo, elas acham que estou ali a dispor de suas frustrações. Eu finjo que não é comigo pois estão chamando a atenção para si. Dia cheio, vou embora de ônibus, um estranho puxa assunto comigo,  tento ser simpático e respondo. De repente estamos batendo um papo, eu e esse estranho, rindo ele puxa para si o centro da conversa, eu o ignoro e tchau.
               Novamente em casa. Até que enfim minha casa, sentado às vezes deitado. Tem um mendigo, preguiçoso na calçada está todo dia ali. Ele nem olha para mim, tem o pé enfaixado, deve ser um truque para arrancar dinheiro dos outros. Eu levanto cedo e ele ali, trabalho, tenho contas para pagar e ele ali só esperando esmola. Ele tem um monte de amigos, eu os vejo bebendo e rindo. Rindo de que?! Eu nem consigo abrir meio sorriso. E em casa vem ela ,a dona da casa, mobilhou, escolheu a cor, o lugar. Eu só paguei. E ao pisar em casa  já vem reclamando, falando que eu não dou atenção. Poxa!!! Estou cansado! Penso, mas não falo e grudado nela o suga atenção, querendo carinho também. Tive apenas dois anos para aproveitar meu reinado, isso ao qual lembro- me, agora sou espectador dele.
               Vou sair com amigos. Quero esquecer tudo e beber. E lá vem ela, “Nada de beber”, e “Nem chegar tarde”. Cuida da minha vida também. Janto e saio. Lá, todos com o mesmo problema, bebemos, falamos das mulheres que não vamos ficar, de futebol, agora sim meu terreno. De repente toca o telefone, “Que horas vai chegar?”.
               Vida nova. Cansei, agora moro sozinho, vejo o grude todo fim de semana. A casa é minha, eu escolhi os móveis, está tudo uma bagunça é nostálgico... E ela liga cinco vezes mais, é pensão, remédio, médico. Arrumou outro rápido que se vire por lá.
                Casei de novo. Outro suga atenção, outra dona da casa. Então me pergunto por que separei da primeira, se acabei caindo na mesma armadilha. Mas a solidão era horrível. Ainda lembro-me do bêbado na porta de casa, o invejo sujeito descompromissado, livre, feliz...
              Morri. Agora com 80 anos, deixei dois filhos, cinco netos e duas mulheres. Enfim consegui meu dia, o dia do meu funeral, só meu. Eu era o centro da atenção por pouco tempo, mas o importante é que era meu. Agora vou descansar em paz.  

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